HOMENAGEM FEITA EM 2008 AM RUA LEIDE das NEVES. MANAUS AM

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20 anos depois procurar meus direito tomados!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Cadê o RESPEITO ?

MINHA HISTÓRIA ODESSON ALVES FERREIRA, 56
O dia que nunca passou

RESUMO
A família de Odesson Alves Ferreira, 56, foi a mais atingida pelos efeitos do césio-137, liberado no maior acidente radiológico do país, em 1987, em Goiânia. Foram contaminadas 249 pessoas, quatro morreram.
O problema ocorreu quando um aparelho de radioterapia foi desmontado, expondo o material.
Hoje, Odesson preside a Associação das Vítimas do Césio-137. Na semana passada, ele divulgou carta de apoio às "futuras vítimas" do vazamento nuclear de Fukushima, no Japão.

(...)Depoimento a NATÁLIA CANCIAN
DE SÃO PAULO

Era uma quarta-feira, 22 de setembro de 1987, quando fui visitar meu irmão Devair. Fazia tempo que eu não o via.
Entre um café e outro, ele disse que estava muito mal e desconfiava de uma feijoada que tinha comido. Tinha a pele escura e reclamou que os dentes estavam moles.
Foi quando ele me mostrou a peça -queria fazer uma pedra de anel com ela. Peguei um fragmentozinho, do tamanho da metade de um grão de arroz, e segurei por menos de dois minutos.
Ele tinha comprado de dois rapazes que foram ao ferro-velho dele dias antes. Minha cunhada Maria Gabriela estava encantada com a beleza daquilo e dizia que, à noite, emitia uma luz tão forte que era preciso cobri-la.
Quando esfreguei na palma da mão, esfarelou. Eu disse: "Ah, mano, isso não tem serventia". Limpei as mãos e ficou por isso mesmo.
A família do Ivo, outro irmão que morava por ali e que ficou com uma peça, também estava doente, mas ninguém ligou as coisas. Estavam todos fascinados.
No Ivo, a peça ficava embaixo da cama da filha, a Leide, de seis anos.
Seis dias depois, estavam todos mal quando a Maria Gabriela teve a ideia de levar uma peça para a Vigilância Sanitária. No dia seguinte soubemos que era césio-137.
Foi uma confusão. Fomos levados ao estádio de Goiânia e, no vestiário, passaram uma vassoura com vinagre na gente antes de ver o nível de contaminação. A água ia para o esgoto, sem cuidado.
Ali eu soube que estava com uma dose alta de radiação. Outras pessoas, como a Leide, que tinham feridas na pele, foram para o hospital.
A maioria tinha encostado na peça, como eu. Só fui internado em 1º de outubro, quando as mãos começaram a coçar e a inchar.

QUARENTENA
Éramos 17 pessoas em quarentena. A Leide, a Maria Gabriela e dois funcionários do Devair morreram um mês após a peça aparecer.
Não tínhamos certeza de nada. Pela janela, víamos os caixões de chumbo separados para nós. Dos enfermeiros, só dava para ver os olhos. Pareciam astronautas.
Fiquei quase três meses no hospital. Minha casa foi destruída para descontaminação, e moramos três meses num albergue. Depois ganhamos uma casa.
Perdemos quase todas as lembranças. Amigos e parentes que moravam fora nos discriminaram.
Minha família foi a mais atingida de Goiânia. Hoje, não conseguimos ficar juntos sem lembrar do acidente.
O Devair morreu em 94. Ele se culpava por ter levado a peça para casa, mas não estava escrito que era perigoso.
Passei um bom tempo com uma ferida na mão esquerda, que cicatrizava e reabria. Amputei um dedo. Um dia, um médico da Unicamp quis fazer um experimento. Colocamos um enxerto de pele da barriga na minha mão e a ferida parou de abrir.

PRECONCEITO
Passamos dois anos e meio em monitoramento na Comissão Nacional de Energia Nuclear, até que disseram que estávamos descontaminados. Recebemos uma declaração, e a ordem era levá-la para todo lugar. Mas isso não diminuiu o preconceito.
Eu também me autodiscrimino. Quando alguém pergunta o que é isso na minha mão, tenho medo de falar.
Já tentei várias entrevistas de emprego, sem sucesso, e meu filho foi demitido.
Nos primeiros dois anos, tinha médicos e autoridades atentos à tudo. O governo criou a Fundação Leide das Neves para apoiar as vítimas. Só que o tempo foi passando e, como só 4 daqueles 11 caixões foram usados, acharam que não era tão sério. O remédio parou de chegar, acabou o atendimento psicológico.
Faço 30 exames a cada seis meses. Sou do grupo 1 do centro de assistência, que monitora quem teve contato com o césio. Somos mais de 900 vítimas, o número não para de crescer.
Ainda sinto dores nas mãos, principalmente quando muda a temperatura. Tem vezes que esquenta tanto que preciso colocá-la no freezer.

ACIDENTE NO JAPÃO
Meu primeiro sentimento foi de compaixão. Depois, senti apreensão, por saber que as autoridades sempre amenizam o problema.
Espero que lá não passem por cima das vítimas, como aqui. Muitas doenças só vão aparecer daqui a anos. Nossa maior preocupação é com os netos. Não sabemos o que pode acontecer com eles.


OUTRO LADO

Governo de GO nega falta de medicamentos

DE SÃO PAULO

O Centro de Assistência aos Radioacidentados Leide das Neves Ferreira, órgão da Secretaria de Saúde de Goiás que atende as vítimas do acidente com césio-137, nega a falta de remédios.
De acordo com o diretor-técnico da instituição, José Ferreira, os medicamentos mais procurados, para diabetes e pressão alta, estão disponíveis tanto no Centro de Assistência quanto na rede básica de saúde dos municípios.
Já os remédios mais caros, para hepatite e câncer, afirma, podem ser obtidos após cadastro na Central de Medicamento de Alto Custo Juarez Barbosa, em Goiânia. (NC)


FOCO

Abadia de Goiás se orgulha de ser depósito de lixo radioativo

SOFIA FERNANDES
DE BRASÍLIA

O desenho de um boi e um símbolo radioativo estampam a bandeira de Abadia de Goiás. O orgulho da pecuária, forte no rincão goiano, e de um depósito de lixo infectado são o símbolo máximo da cidade. Ela abriga os despojos do maior acidente nuclear do Brasil.
São seis mil toneladas de lixo radioativo, originado do rompimento de uma cápsula com 19 gramas de césio. Roupas, plantas, destroços de casas e até animais vivos tiveram de ser lacrados em chumbo e concreto.
O material contaminado no desastre do césio-137 em Goiânia, em 1987, foi transportado dias depois para Abadia (a 15 km da capital).
Hoje, a cidade trata aquilo que seria sua chaga como um presente, que lhe deu notoriedade e até renda.
A União paga R$ 28 mil a cada três meses para o município, de 7.000 habitantes, por abrigar o depósito.
A unidade da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) montada em Abadia recebe 10 mil visitas por ano, de gente de todo o país. Com o incidente nuclear no Japão, a curiosidade e o número de visitas aumentou.
No depósito, que mais parece duas colinas cobertas por grama, estão 4.223 tambores de 200 litros, 1.347 caixas metálicas, oito recipientes de concreto e dez contêineres marinhos.
O morador Jeudi Vieira de Macedo, 31, diz que o lixão foi um dos motivos da emancipação da cidade, em 1995. "O depósito foi para a cidade um ponto positivo, e não se fala toda hora no césio."
Segundo o coordenador do Cnen, Leonardo Bastos Lage, a área do depósito é constantemente monitorada e não há risco de vazamento.
No centro de Goiânia, onde o acidente aconteceu, resta um terreno vazio, com piso concretado, e a promessa de um museu sobre o acidente.
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Postado por conteudo livre Marcadores: 27/03/2011, Folha de São Paulo, minha história às 15:47
Reações:
1 comentários:

jorgemoraes56... disse...

É um absurdo as injustiças neste pais,
este anos completará 25, garanto que será o ano da decisão,
é lamentavél que além de todo transtorno destruição
de familias, abandono covardias do poder tenha que se peroetuar também o massacre da DIGNIDADE,
apartir deste mes voltarei a goiania outra vez
me juntarei a estas familias e o que for preciso
farei para ue definitivamente se resgate o RESPEITO.
Chega de brasil das COVARDIAS!
O RESPEITO É A BASE DA VIDA.
HIPOCRISIA NÃO !!!
2 de janeiro de 2012 22:07

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